sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

É por isto...

Não é todos os dias, ou em todos os casos que consigo estabelecer uma relação empática com as pessoas de quem cuido.
As pessoas são todas diferentes, modificam os seus comportamentos estando em situações de stress como 
parir ou ser operadas... E a minha disponibilidade também não é sempre a mesma...
Ainda mais, trabalhando num serviço de bloco operatório onde, por vezes, temos cirurgias urgentes ou mesmo emergentes, em que todos os segundos são importantes, o tempo, simplesmente, escasseia para poder fazer pouco mais que os procedimentos técnicos necessários.

Ontem, fui enfermeira circulante na cesariana de uma senhora cujo marido tinha emigrado para bem longe, há uns meses atrás e só irá voltar daqui a 3 meses...
Nunca estive emigrada, nem sou mãe, mas imagino a angústia e sensação de solidão deste pai e desta mamã.

Felizmente, tudo se proporcionou para que pudéssemos realizar o contato pele a pele entre a mãe e a bebé logo após o nascimento, ainda durante a cesariana.
Somos uma maternidade pioneira neste procedimento, apesar de já o fazermos há imenso tempo nos partos vaginais, por sermos "Hospital Amigo dos Bebés", e eu sinto-me muito orgulhosa por fazer parte da equipa que impulsionou este projeto, no bloco operatório.

Como devem saber, as fotografias não são permitidas nas cirurgias, mas neste, como noutros casos, decidimos abrir exceção à regra.
Por isso tirei algumas fotografias dos primeiros minutos da bebé ao colo da mãe e enviei-as aos pais.

Não foi a primeira vez que o fiz.
Fi-lo por achar que devia e não por obrigação.
E, pela primeira vez, recebi em resposta um e-mail, vindo de bem longe, que me emocionou...


"Estamos muito gratos pelo acto nobre que hoje teve para comigo, C. e bebé M., sem duvida fez toda a diferença, é muito bom saber que existem profissionais como a D. que dignificam o vosso trabalho e profissão.
Este seu pequeno gesto para nós tem um significado enorme, principalmente para mim que, por motivos profissionais  me encontro a 10 000 km de [...] no interior da [...] (no meio dos leões, elefantes, girafas...) e não pode de perto acompanhar este momento tão especial que é ser pai pela primeira vez, tocar na M. !, sentir a M...!,  e não estar ao lado da C. para poder dar-lhe todo o amor que ela merece e devido apoio."

É por isto que vale a pena ser enfermeira.
Foi por isto e não pela parte técnica que, um dia, me lembrei que poderia seguir esta profissão.

Posso ter contribuído para a felicidade desta família, mas eles também contribuíram para a minha. Deram-me motivação para continuar. Fazer mais e melhor!
Infelizmente, por diversas circunstâncias, já há uns tempos que não me sentia tão bem com a enfermagem. Sentia-me desmotivada...

Que lufada de ar fresco!
Obrigada.



P.S.:
Os nomes das pessoas e locais foram suprimidos, por mim, por razões óbvias.
E desculpem o tamanho deste post, queridos 4 leitores... :P

1 comentário:

S. disse...

Também sou leitora, pá!

E achei muito bonito! Ainda bem que há dias assim, que nos deixam de coração cheio!